terça-feira, 9 de outubro de 2007

Situação X Oposição

Quem ganha esse jogo?

A pergunta é relevante e merece nossa consideração, mesmo que esse título, apesar da conotação vulgar, possa ser causa de choque para alguns. Por isso vamos propor a pergunta de uma forma mais ampla e explicativa:

Quem ganha e quem perde nessa controvérsia em torno de assuntos doutrinários que vem se estendendo ao longo dos anos através da Internet? "Situação ou Oposição"?

O título escolhido para este artigo lembra os acirrados embates que ocorrem no cenário político da nação e, queiramos ou não, nos faz pensar também, ser essa uma realidade em nossa comunidade eclesiástica. Talvez não com as características do jogo político secular, mas com certeza com efeitos nocivos que podem resultar em perdas irreparáveis envolvendo o destino eterno dos envolvidos.

A origem do espírito de controvérsia

Controvérsias não são uma novidade na história da igreja. Tampouco na história da humanidade. Aliás, qualquer cristão sabe que essa questão de “situação e oposição” teve o seu início no Céu, quando um anjo de elevada posição, movido pelo orgulho, por motivos misteriosos, decidiu rebelar-se contra a autoridade divina. A esse anjo tem sido dado o nome de Lúcifer, embora a Bíblia não o afirme claramente. Foram os chamados “pais da igreja”, como Tertuliano, Jerônimo, Orígenes e outros que primeiramente interpretaram o texto de Isaias 14:12 a 14 no qual encontramos as expressões “estrela radiante, filho da alva”, aplicando-o a Satanás, o arqui-inimigo de Deus e da humanidade. Obviamente, temos de admitir que o surgimento do mal é um insondável mistério. Sabemos que Deus não criou autômatos, mas seres dotados da capacidade de livre escolha e o porquê de Satanás rebelar-se contra Deus só pode ser considerado como uma atitude movida pelo orgulho. Pelo menos é o se deduz da citação de Isaias nos versos 13 e 14: “Tu dizias no teu coração: Subirei ao céu, exaltarei o meu trono acima das estrelas de Deus e sentar-me-ei no monte da congregação nas extremidades do norte. Subirei acima das alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo”.

O assunto é amplo e apenas para confirmar a luta “situação X oposição” citamos a seguir Apocalipse 12:7-9: "Houve peleja no céu. Miguel e os seus anjos pelejaram contra o dragão. Também pelejaram o dragão e os seus anjos; todavia, não prevaleceram; nem mais se achou no céu o lugar deles. E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos".

Quem é “Situação” e quem é “Oposição”

Biblicamente, em se tratando da guerra entre o Bem e o Mal, entre Cristo e Satanás, a oposição sai derrotada. No entanto, ao discutirmos a questão da controvérsia que envolve assuntos doutrinários, não podemos afirmar antecipadamente quem seja quem. Tampouco quem obterá a vitória final e a quem caberá a derrota. Seria “situação” a igreja institucionalizada e “oposição” os mais diversos ramos de dissidentes? Para quem tem sua posição alicerçada nas Escrituras Sagradas a pergunta pode parecer desnecessária, mas seja como for merece nossa consideração e, bem pensada, pode criar uma situação embaraçosa. Senão vejamos:

Na história sagrada podemos encontrar vários exemplos de “situação e oposição” de reis institucionalizados e profetas que aqui chamaremos de dissidentes por se oporem diretamente ao sistema governamental estabelecido. Um exemplo dentre muitos que podemos citar encontra-se no ministério do profeta Elias que, por se opor diretamente ao sistema, foi chamado de “perturbador de Israel” (I Reis 18:17). No entanto, segundo as informações bíblicas, os vaticínios dos profetas ao longo da história de Israel, se cumpriram e o sistema governamental do povo judeu caiu por terra.

Quando Israel se encontrava sob o jugo romano, vamos encontrar mais alguns exemplos de “situação e oposição”. João Batista que, dentre “os nascidos de mulher não há nenhum maior” do que ele, com certeza foi “oposição” ao rei Herodes. Embora o rei o “escutasse perplexo”, acabou por mandar que o degolassem. Nesse caso, aparentemente, a “oposição” levou a pior.

Exemplo mais contundente vamos encontrar no ministério de Cristo, o maior opositor do sistema vigente. Não foram poucos os momentos em que Cristo enfrentou os sacerdotes, os escribas anciãos do povo para denunciar os mandos e desmandos daqueles que se encontravam no poder da “situação”. Um episódio marcante se encontra no momento em que, “entrando Ele no templo, começou a expulsar os que ali vendiam e compravam, e derrubou as mesas dos cambistas, e as cadeiras dos que vendiam as pombas”. (Marcos 11:15). Sem dúvida, uma atitude característica de um “dissidente” que, não conformado com a corrupção reinante, iniciou uma operação de saneamento básico no templo do Senhor. Jesus, foi preso e, por ameaçar o sistema acabou dependurado numa cruz. Na concepção dos líderes judaicos, a “situação” foi vitoriosa.

Mudanças no cenário político-religioso

Seguindo a história, vamos encontrar Pedro, João, Estevão, Paulo e tantos outros que ousaram se contrapor ao sistema reinante e receberam o prêmio do castigo, martírio e morte como todos sabemos pelos relatos da história sagrada. A história, porém, não terminou com os cristãos apostólicos. As controvérsias que antes se configuravam de modo contrário ao sistema, em se desmoronando este como havia sido previsto pelos antigos profetas, tomam agora uma nova forma.

Numa nova contextualização de fatos e ocorrências, os debates doutrinários começaram se tornar uma realidade. Em primeira instância não havia um sistema reinante, mas havia sim quem desejasse assumir o controle e, como sempre acontece com aqueles que desejam ser os detentores do poder, lançavam mão de recursos não condizentes com a Verdade. Tanto que o apóstolo Paulo faz o seguinte apelo aos Efésios: “para que não mais sejamos meninos, jogados de um para outro lado e levados ao redor por todos os ventos de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro”; (4:14).

Mais adiante, Paulo relembra ao jovem pastor Timóteo o perigo das discussões doutrinárias. I Timóteo 6:3 a 5 deixa claro o pensamento do apóstolo:

“Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas, altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro”.

Nesse momento, porém, não havia uma igreja institucionalizada, apenas a mensagem era disseminada pelos apóstolos e discípulos e os cristãos se reuniam nas casas para a comunhão e foi nesse contexto que as discussões doutrinárias se intensificaram. Quem era “situação” e quem era “oposição”? Por não haver um sistema institucionalizado, a não ser o do estado romano, havia apenas opositores que discutiam entre si os pontos que julgavam ser a verdade.

Hoje com o conhecimento que temos é fácil afirmarmos que os apóstolos e cristãos detinham a verdade. Na época, porém, considerando que o sistema judaico ainda apresentava vestígios de seus costumes cerimoniais e o paganismo continuava a se propagar, ambos influenciados pelo poder estatal. Em tais circunstâncias, os desavisados, com certeza, teriam dúvidas para saber que posição tomar. No entanto, como sempre, o princípio válido para se posicionar nós o encontramos nas palavras de Cristo realçando a importância do conhecimento da Verdade a fim de se obter a liberdade (João 8:32). Tal princípio é reforçado em João 17:17: “Santifica-os na Verdade, a Tua Palavra é a Verdade”. Em suma, o cristão hoje precisa estar fundamentado no “assim diz o Senhor”. 2 João 1:9 “Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho”.

Baseados nas recomendações dos apóstolos, em especial Paulo e João, sabemos que a verdadeira doutrina de Cristo sofreu oposição da parte de muitos que desejam os favores dos cristãos. E foi assim no decorrer dos primeiros séculos da história do cristianismo. Com a “conversão” fisiológica de Constantino, caracterizada pela busca de ganhos ou vantagens pessoais para seu império, o cristianismo ao mesmo tempo em que se institucionalizava, assimilava também costumes e práticas pagãs. E, assim a controvérsia doutrinária teve seqüência com debates acirrados entre os teólogos da época, debates esses que se estenderam ao longo dos séculos.

A insurreição de Lutero

Bem mais tarde, no século XV, vamos encontrar um jovem monge, Martinho Lutero, integrado no que estamos chamando de “situação”, ou seja, o sistema dominante da Igreja Católica. Lutero era, sem dúvida um católico devoto, dedicado à meditação, às muitas horas de oração pelas almas e à confissão, todavia, por mais que se esforçasse para ser um bom cristão, mais reconhecia ser um pecador. Em sua busca de aperfeiçoamento espiritual, dedicou-se ao estudo da Bíblia e da História da Igreja Primitiva. Graduou-se Doutor em Teologia e mediante seus aprofundados estudos, percebeu erros doutrinários no sistema dominante, o que o levou a elaborar 95 teses contra a doutrina católica romana, tornando-se assim o Pai da Reforma Protestante. Lutero, sem dúvida foi um “dissidente” e por se opor à “situação”, foi excomungado pelo Papa Leão X em 1521.

Em tais circunstâncias, a controvérsia se intensificou e muitos outros opositores ao sistema, forma martirizados, alguns, queimados vivos em fogueiras nas praças públicas. Ser “oposição”, ao que tudo indica parece sempre levar a pior, pelo menos a história assim o comprova.

Na atual conjuntura, quem ganha e quem perde?

Como as divergências doutrinárias vêm se sucedendo ao longo das eras, encontramos-nos hoje, também presenciando os debates em torno de vários assuntos teológicos e o mesmo quadro está diante de nós, de um lado os defensores do sistema eclesiástico de nossa igreja, e do outro lado os dissidentes opondo-se tenazmente contra os argumentos oficiais.

Na atual conjuntura, quem ganha e quem perde? Como nosso objetivo não é entrarmos no mérito das questões debatidas e, tampouco, gerar debates, desejamos apenas concluir afirmando que, se não atentarmos para os conselhos da Palavra de Deus exarados nas epístolas de Paulo; se não prestarmos atenção à suplica de Cristo para que sejamos um, como Ele é um com o Pai, ganha Satanás, o originador das controvérsias, perde a Igreja como povo de Deus, perdemos nós se, ao invés de vivermos um cristianismo prático, dedicarmos tempo e energia em debates intermináveis.

O apóstolo Paulo aconselha em tom imperativo:

2 Timóteo 2:14 “Recomenda estas coisas. Dá testemunho solene a todos perante Deus, para que evitem contendas de palavras que para nada aproveitam, exceto para a subversão dos ouvintes”.

2 Timóteo 2:23 “E repele as questões insensatas e absurdas, pois sabes que só engendram contendas”.

Tito 3:9 “Evita discussões insensatas, genealogias, contendas e debates sobre a lei; porque não têm utilidade e são fúteis”.

Um abraço! Que Deus esteja sempre ao nosso lado.

Poderíamos encontrar na Bíblia uma pista para saber como lidar com as "Divergências na Igreja" ? Siga o link para considerar as possibilidades consideradas pelo autor deste Blog.